Irmã Monica Ceroni, professora de Carlo Acutis no ensino fundamental: “Não tinha necessidade de ostentar a fé, pois a mantinha como uma bússola nas escolhas diárias. Mantinha viva a bela dinâmica do “estar junto” e conseguia garantir que todos se sentissem importantes e aceitos”.
Confira abaixo a entrevista completa publicada originalmente pelo portal Chiesa Di Milano:
“Acredito que, para definir a santidade de Carlo, seja necessário recorrer ao que Papa Francisco dizia sobre a santidade: ‘Os santos da porta ao lado’. Me lembro de Carlo como santo, aluno, companheiro da carteira ao lado”.
Irmã Monica Ceroni, professora de Carlo Acutis durante o ensino fundamental no Instituto das Irmãs Marcelinas, na praça Tommaseo, em Milão, na Itália, não tem dúvidas: o futuro santo dos millenials era um menino extremamente normal, radiante e que, como todos, tinha facilidade em algumas matérias e dificuldades em outras, mas não porque não se dedicava aos estudos, mas simplesmente não eram aquelas as quais ele tinha mais inclinação.
A aula de Ensino Religioso estava entre suas matérias favoritas?
Sim. A sua nota em Ensino Religioso era sempre excelente, pois ele possuía um modo próprio de se expressar e de participar das aulas. Contudo, não existia nele nenhuma ostentação da fé. Aquilo que lembro como um aspecto muito particular seu e que serve de conselho aos jovens de hoje era sua capacidade de estar com todos os alunos de sua classe, tanto aqueles que ele considerava como amigos, até mesmo como irmãos, quanto os considerados mais humildes e menos populares. Carlo conseguia garantir que todos se sentissem importantes e aceitos. Eu vejo que este é um comportamento típico do menino cristão, que não tinha necessidade de dizer “Assim como fez Jesus” para fazer qualquer coisa. O fato é que Carlo tinha Jesus no coração e é exatamente isso que, na minha opinião, um santo deve fazer. Se nós imaginarmos a imagem ideal de um “santinho”, não veremos Carlo. Porém, se quisermos descobrir os traços que fazem de um menino de quinze anos ser capaz de viver a experiência cristã, é nele que nos espelharemos.
A senhora frequentemente relembra de Carlo nesses quase vinte anos desde a sua morte?
Com certeza. Me lembro inclusive de outras crianças que já estão no céu, como Consuelo, um outro Carlo e, naturalmente, Carlo Acutis. Eles fazem parte de meus santos protetores, que protegeram e continuam a proteger a escola e as crianças, sobretudo aquelas que enfrentam dificuldades. Me lembro de quando cheguei ao Brasil e encontrei, em nossa universidade de São Paulo, um poster enorme com letras maiúsculas de Carlo, que havia falecido há apenas três anos. A pastoral jovem de nossa faculdade já estava debruçada ao redor de sua vida. Posteriormente, naquele mesmo ano, em outras partes do mundo onde temos escola, Carlos também se tornou uma figura de referência para as pastorais. Como não relembrar frequentemente dele? O eco deste menino, do seu modo de ser, que também é o marco de sua personalidade – repito isso, porque me parece um caráter importante -, é que ele nunca teve a necessidade de ostentar a fé, pois tinha Jesus como sua bússola nas escolhas cotidianas.
Na vivência de Carlo, voltando em sua memória, se percebia a santidade ou, pelo menos, a singularidade de um aluno muito particular?
Essa é uma pergunta que coloca nós, educadores, à prova. Eu não havia notado que tinha como aluno um santo, mas isso me impulsionou a questionar se, hoje, entre as carteiras da sala de aula, podem estar os santos do Terceiro Milênio. Carlo certamente não era o exemplo de aluno “perfeitinho” que tantas vezes nós, docentes, desejamos: aquele atento, que faz todos os deveres, que é organizado, que sempre traz os livros, que não chega atrasado, que nunca recebe uma anotação por mau comportamento. Era o menino que continuamente debatia com você para entender profundamente aquilo que era discutido em sala. Para nós, professores, acredito que possa ser um estímulo importante. Cada menino é único – um “original”, como dizia Carlo -, feito à imagem de Deus e da forma como Ele desejou. É isso que nós devemos descobrir e fazer emergir. Carlo era aquele que mantinha viva a bela dinâmica do ‘estar junto’, enquanto agora os jovens me parecem mais sombrios. Hoje, existem por aí tantas crianças tristes e isso é reflexo da história, que nos interpela também através das diversas linguagens. Tenho certeza de que, se Carlo estivesse aqui hoje, ele já teria entrado nas redes sociais, com a capacidade de ser plenamente um menino de 15 anos que sabe preencher a vida, tanto a sua quanto dos outros.