A nova lei que limita o uso de smartphones no ambiente escolar está transformando a rotina de estudantes e professores. Mas o impacto vai além do conteúdo acadêmico: afeta o comportamento, as relações sociais e até a saúde mental.
Por Fernanda Cifali, orientadora educacional da Rede de Colégios Santa Marcelina*
O que diz a nova legislação sobre o uso de celulares nas escolas
A restrição dos celulares nas escolas foi formalizada com a sanção da Lei nº 15.100/2025, que proíbe o uso dos dispositivos durante aulas, recreios e intervalos, exceto em casos pedagógicos autorizados ou situações que envolvam acessibilidade, saúde ou segurança.
A medida é respaldada por pesquisas. Segundo o Datafolha, 62% da população apoia a proibição, e esse número sobe para 65% entre os pais de crianças com até 12 anos. Além disso, 76% acreditam que o uso do celular prejudica o aprendizado.
O impacto imediato da restrição nas escolas
Relações sociais mais fortes
Após dois meses de implementação da restrição dos celulares nas escolas, mudanças positivas já foram percebidas. As relações interpessoais se intensificaram: os estudantes estão mais próximos, engajados e participativos. Embora alguns ainda enfrentem dificuldades de interação sem o suporte das redes sociais, muitos têm explorado novas formas de socialização.
Melhora no desempenho e na organização
As aulas tornaram-se mais produtivas e as turmas mais concentradas. A entrega de tarefas melhorou, e atividades como leitura, jogos de tabuleiro e esportes voltaram a ganhar espaço. Além disso, o hábito de copiar à mão os conteúdos mostrou benefícios para a aprendizagem — conforme reforçado por estudo da Psychological Science, que indica que escrever no caderno ajuda na fixação do conteúdo.
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Os desafios da transição e a adaptação pedagógica
Apesar dos ganhos, a implementação da restrição dos celulares nas escolas ainda exige adaptações, especialmente em colégios que usam tecnologia de forma intensa no dia a dia. Muitos professores também utilizam os aparelhos como ferramenta didática, o que torna necessário rever práticas e rotinas.
Além disso, há impactos emocionais. Alunos que estavam acostumados a interações exclusivamente digitais, por vezes, enfrentam dificuldades para se comunicar pessoalmente, o que pode gerar ansiedade e sentimentos de desorientação.
Caminhos para uma adaptação saudável
Comunicação clara com famílias
Para garantir uma transição eficiente, é essencial que as escolas comuniquem com clareza os motivos da restrição dos celulares nas escolas, bem como as diretrizes adotadas. A parceria com as famílias é fundamental — pais informados tendem a reforçar as regras em casa, o que reduz conflitos e favorece o ambiente escolar.
Acolhimento emocional e observação individual
Não se trata apenas de impor regras, mas de observar como cada aluno lida com a nova realidade. A escola deve acompanhar de perto os impactos da mudança, acolhendo dificuldades e mapeando possíveis casos de isolamento social ou emocional.
Uma mudança que já mostra resultados
Embora ainda seja cedo para mensurar o impacto nas notas e no desempenho em exames, os primeiros meses de vigência da restrição dos celulares nas escolas mostram resultados promissores. Com aulas mais focadas, alunos mais presentes e relações interpessoais fortalecidas, o cenário aponta para uma transformação duradoura.
Mais do que controlar o uso de tecnologia, a proposta busca resgatar o sentido do espaço escolar como lugar de aprendizagem integral — onde o foco, o convívio e o cuidado com o outro ganham destaque.
*Artigo publicado originalmente em O Estado de Minas.