A criança que brinca está conectada à sua essência

Da minha janela vejo duas crianças brincando. Sobre montes de terra jogados num terreno baldio, poças de lama e um carrinho de mão, desses usados em construções, vivem aventuras memoráveis. Vejo também um adulto, que como espectador procura registrar com fotos a alegria que impera nesse lugar rústico, mas cheio de possibilidades.

Brincadeira é coisa tão séria, que a Base Nacional Comum Curricular a tornou um direito a ser assegurado pela escola às crianças, em seu processo de desenvolvimento e aprendizagem.

Mas nossos filhos irão para a escola para brincar? Sim! E é importante entendermos que as crianças não param de brincar quando entram na escola, mas testam hipóteses, formulam suas teorias provisórias e manifestam suas conquistas, também por meio do brincar.

Se você quer um elemento para avaliar a escola de seu filho, investigue o quanto brincam e se os professores interpretam as ações das crianças em suas brincadeiras para projetarem a experiência de aprendizagem, e o quanto compreendem o brincar como um recurso pedagógico potente.

Brincar é uma experiência que permite ao ser humano pensar a si próprio, e à criança, especialmente, perceber-se em sociedade, ler e renovar constantemente sua leitura do mundo, representar e apropriar-se de papéis, atuar no plano simbólico e, com o espírito aberto ao que está diante de si, volta-se a si mesmo, constituindo sua identidade. Voltar-se a si mesmo é o núcleo e a grandeza da experiência estética, nesse ir e vir, a criança se forma e se transforma.

As férias chegaram e as crianças continuarão brincando, pois é a forma como manifestam o seu ser. Que seja uma boa oportunidade de desemparedarmos a infância para que nossas crianças brinquem de forma espontânea, sem necessariamente terem um brinquedo estruturado, mas que explorem elementos da natureza e abram possibilidades de criação, de construção de novas narrativas diante de experiências inesperadas. Um brincar saudável envolve escolhas, interação e imaginação.

A criança que brinca está inevitavelmente conectada à sua essência, e o adulto que se arrisca a entrar nessa experiência tem mais chances de conectar-se com ela e ao mesmo tempo com sua criança interna, e evoluir frente aos desafios de um mundo que nos convida constantemente a nos reinventarmos.

Bora aproveitar esse tempo para resgatar a espontaneidade, as memórias de infância e ter mais qualidade de vida junto às nossas crianças?

 

 

 

Rita Rangel
Gestora Pedagógica