A quarentena se estende, e quantos sentimentos ficam evidentes! Aprendemos ao longo da vida a blindar os sentimentos ruins, para vivermos sempre bem e agradecidos. Frases como “tudo vai passar”, “outras pessoas têm problemas piores que o seu” nos moldaram. Mas como negar os sentimentos? E olhando com atenção para os sentimentos que tanto nos afligem, um questionamento fica latente: por que eles aparecem com tanta evidência neste momento? Penso que há uma resposta: somos (éramos?) GERAÇÃO CONTROLE.
Sabemos viver no controle. Controlamos a casa com câmeras, sistemas de alarmes. Controlamos o lar, organizando a dispensa, os horários e quem fica responsável pelas ações para que o dia termine com tudo em ordem. Controlamos a educação dos filhos, escolhendo a melhor escola que o eduque em comunhão com os mesmos valores da família. Controlamos os sonhos, decidindo para onde viajar, o que comprar, o que vestir, para onde sair. Controlamos nossas entradas e saídas. Controlamos as pessoas da família por meio de aplicativos que nos dizem onde elas estão. Controlamos o orçamento pensando no futuro. Controlamos as emoções, para sempre estarmos bem.
De repente, algo microscópico surge e retira de nós esse controle.
E agora? Como viver sem esse controle?
Hoje, perguntas se multiplicam, e as respostas não vêm. Será que ainda ficarei empregado? Será que meu salário será mantido? Será que haverá alimentos nas prateleiras dos supermercados? Será que o trabalho em home office está eficiente? Como parar de trabalhar sendo que a demanda agora está sob meus olhos? Será que o home school permite um efetivo aprendizado? Será que a vida voltará a ser como era antes? Quando tudo isso acabará? Onde está o mundo que eu controlava? Onde está o mundo que eu conhecia?
Aprendemos a viver no controle, como é bom viver com controle. O controle nos dá a sensação de segurança. Hoje, não temos isso.
Não controlar é novo. É como um bebê que descobre suas mãos ou os primeiros passos. Voltamos ao começo, contudo, sabendo de tudo que podemos fazer.
Mas, se sempre controlamos, não será de imediato que iremos mudar. Para onde estou canalizando o controle?
Às vezes, canalizamos o controle no trabalho, trabalhando horas e horas em home office, acreditando que somente com o excesso de horas é que nos apresentamos da melhor forma.
Podemos, também, estar canalizando o controle nos filhos, exigindo uma perfeição em suas ações escolares. Para alcançar isso, ficamos ao lado deles, a todo o momento, fazendo tudo junto, com o foco nessa tal perfeição. Mas a perfeição humana existe? Será que temos o controle do percurso acadêmico dos nossos filhos? Somos nós que queremos ter o controle de tudo ou o filho realmente não sabe traçar seus passos sem nossa ajuda?
O mundo mudou. Mas o olhar ainda não. E esta é a grande questão. Podemos passar os dias questionando tudo isso ou podemos mudar o olhar e decidir abraçar tudo isso.
Ao contrário de represar os sentimentos, deixemos que eles fluam. Aprendamos com os sentimentos. Vamos nos permitir o equilíbrio. Vamos nos permitir fazer o que está ao nosso alcance e ser grato por isso. Vamos nos permitir errar! Vamos nos permitir não conseguir fazer tudo. É libertador!
Quando lutamos contra o sentimento, gastamos muita energia sem que uma solução apareça. E isso nos consome. Respeitar o sentimento nos traz aprendizados.
Em meio a esse turbilhão de sentimentos, a natureza novamente nos ensina! Ela já se reinventou! Já se transformou! Está mais linda do que antes…
E refletindo sobre a sensação de segurança que o controle nos dava, será real? Ou será que a vida está nos apresentando o que de fato é real?
Somos “criatura”, e não Criador. O tempo nos exige mudanças. Saiamos da Geração Controle e iniciemos a Geração Gratidão. Mudemos nosso olhar, sejamos gratos e aprendamos a viver o presente, como um PRESENTE. Aquele que você abre sem saber o que tem dentro e vibra de tanta alegria. Não controlamos os presentes que ganhamos, mas isso não nos deixa com sentimentos negativos. Ao contrário. Ficamos felizes e gratos.
Deus nos fez assim, aniversariantes diários. Festejemos cada dia como uma festa surpresa!
Caroline Dayrell